Sabe-se que muitos brasileiros enfrentam dificuldades financeiras para conseguir manter em dia seu financiamento de veículo. E sabe-se também que, quando o consumidor se vê inadimplente, as instituições financeiras podem ingressar com uma Ação de Busca e Apreensão para garantir de volta o bem.
Nessas horas, o consumidor se vê sem saída, com medo e muitas inseguranças, e chega a achar que a solução para se livrar de uma vez desse problema é realizando a entrega amigável do bem.
Perda do poder de negociação
Acredite: essa alternativa muitas vezes não é a melhor opção. A entrega amigável implica, na maioria das vezes, uma perda total do poder de negociação do consumidor. Ao entregar o bem voluntariamente, o devedor abre mão de eventuais condições mais favoráveis que poderiam ser obtidas em uma renegociação da dívida ou mesmo em uma ação judicial. Uma vez que o banco retoma o veículo, o controle sobre o processo e as condições passa a ser exclusivamente da instituição financeira.
A entrega amigável não extingue a dívida
Isso mesmo! Muito embora a maioria das pessoas acredite que a entrega do bem extingue a dívida, não é bem assim que acontece. Quando o cliente entrega o bem para o banco, o valor arrecadado com a possível venda do veículo apenas será abatido no saldo devedor. Isso significa que, se o valor da venda for inferior à dívida total, o consumidor continuará devendo o saldo remanescente.
Em muitos casos, a venda do veículo é feita por um preço bem abaixo do mercado, prejudicando ainda mais o devedor.
Consequências no histórico de crédito
Como a entrega amigável não extingue a dívida, o consumidor poderá continuar com seu nome negativado. Logo, a entrega do bem não protege o devedor de ter o seu CPF registrado em órgãos como SPC e SERASA, impactando consideravelmente no seu histórico de crédito.
Isso resulta em dificuldades para obter financiamentos futuros ou crédito no mercado, perpetuando os problemas financeiros.
Alternativas mais estratégicas
Esses são alguns dos pontos que corroboram com a afirmação de que fazer a entrega amigável do seu veículo não é a melhor opção nos casos de busca e apreensão.
O ideal é procurar ações alternativas mais estratégicas para tentar solucionar o problema, como, por exemplo, tentar uma renegociação direta com a instituição financeira ou recorrer à Justiça. Existem instrumentos legais, como a possibilidade de contestar cláusulas abusivas no contrato, que podem oferecer melhores soluções, tanto em termos de prazos como de condições de pagamento. Algumas medidas judiciais podem garantir que o veículo seja mantido com o devedor enquanto a questão da dívida é resolvida.
Impactos emocionais e psicológicos
Além dos impactos financeiros, devemos levar em consideração os impactos emocionais e psicológicos. Algo que aparentemente possa parecer a solução dos seus problemas pode virar um verdadeiro pesadelo. A sensação de fracasso ao entregar um bem de valor pode gerar sentimentos de ansiedade, estresse e até depressão.
Em muitos casos, o veículo é mais do que um simples meio de transporte, mas um bem que facilita o trabalho e o sustento da família. Sua perda pode gerar consequências maiores.
Conclusão
Por isso, embora a entrega amigável pareça ser a melhor solução prática e talvez menos desgastante, ela certamente pode não ser a melhor escolha. Antes de tomar essa decisão, procure um advogado especialista em direito bancário de sua confiança, explique toda sua situação e avalie possíveis outras alternativas mais vantajosas financeiramente e que também sejam menos prejudiciais a longo prazo, para proteger seus direitos e garantir uma solução mais justa.